Já temos um certo consenso de que a pandemia de Covid19 trará um “novo normal”.
A questão é como cada segmento se posicionará em relação a isso para sobreviver e se desenvolver.
A revisão dos modelos de negócios dos escritórios de advocacia, assim como os demais setores, tem o desafio de conseguir fazer uma leitura inteligente – e rápida – para incorporar com eficácia os elementos trazidos por esse momento.
Esqueça a pandemia e o vírus em si. O importante é conseguir enxergar as repercussões que este momento impactou em seu segmento e para seus clientes.
Esse será um processo único, transversal e multidisciplinar. Se bem feito, será capaz de adaptar o escritório à nova normalidade.
Não se trata, portanto, de esperar as coisas voltarem ao “velho normal”. Estes últimos cinquenta dias geraram rupturas que não voltarão ao tamanho e formato anterior.
Será preciso reconfigurar diversos aspectos da gestão legal.
A começar por finanças, que deve assumir um protagonismo objetivo. É momento de decisões difíceis baseadas no fluxo de caixa. O futuro, em especial o que já está determinado, deve ser medido conforme a régua fria dos números.
Os projetos de expansão estabelecidos nos planejamentos estratégicos de 2019 precisam ser revistos. O mercado da advocacia está com oportunidades de momento, como a concentração de foco em segmentos como Trabalhista, Tributário consultivo, Contratos, Administrativo, Digital e Consumidor. Mas essa é a primeira onda.
A estratégia dada pelo novo modelo de negócio conduzirá à definição de sua estrutura. Devemos mirar estruturas autossustentáveis.
Arrisco dizer que a maioria dos escritórios possui excedente de estrutura. Isso inclui sócios, advogados, estagiários, equipe administrativa, salas, fornecedores. É claro que, após um período de trabalho remoto, tudo parece exagerado.
Mas o que essa experiência recente nos mostrou? Não sei você, mas alguns concorrentes e clientes já fazem releituras de revisão de custos, de preços e de produtividade.
Para definir o tamanho ideal, os escritórios vão implantar novas métricas de produção, controle, avaliação e remuneração.
Não significa necessariamente novos sistemas eletrônicos – até porque alguns se mostraram abaixo da crítica nessa época de acesso à distância. Mas essa é outra questão!
Me refiro, inclusive, a uma reinvenção do trabalho – sem mais a circulação alegórica que simulava intensa ocupação. Isso tem um custo e foi exposto involuntariamente pela covid19.
O ciclo de contratações de equipe será antecedido por Cronoanálise do trabalho e pelo dimensionamento de pessoas e atividades, com métodos ágeis de produção, como o Scrum e o Kanban. Equipe jurídica é, disparado, o maior custo dos escritórios.
Quanto a carreira e remuneração, mais ainda precisaremos ter avaliações objetivas, maduras e vinculadas aos resultados que o profissional efetivamente traz e ao segmento de clientes em que atua. É um ambiente de maior proximidade entre as realidades do cliente e do profissional. Não há mais espaço para gorduras.
No relacionamento com o mercado, conseguir manter clientes e faturamento será motivo de brinde. A relargada requererá posicionamento estratégico de defesa de território. Para isso a lucratividade pode cair, seja por aumento de escopo com manutenção de valor, seja com manutenção de escopo com redução de valor.
Os esforços na busca de novos clientes e mercados farão com que sócios e associados assumam perfil mais arrojado e prospector, sem perda do profissionalismo e elegância que a atividade requer.
O posicionamento do escritório deve estar fundamentado no concreto e não nos desejos dos sócios.
O planejamento estratégico servirá não mais como ferramenta burocrática anual para autoengano dos sócios. Deverá estar adequado à volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade desse novo normal e deve se estender à gestão e controle das ações. Senão, melhor não fazer para não atrapalhar as iniciativas individuais dos bons prospectores. E torcer para que eles sustentem a estrutura sem perceber que não precisariam dela.
Vale o alerta: o vírus ataca mais os escritórios com doenças preexistentes (Fonte: CONJUR).